Anos de vida perdidos - Covid19

No post de hoje, vamos analisar o impacto dos óbitos por COVID-19 do ponto de vista de uma métrica diferente: por Anos de Vida Perdidos. Os Anos de Vida Perdido (do inglês YLL, Years of Life Lost) é uma métrica utilizada na área de saúde para mensurar mortes prematuras: na prática, ela estima quantos anos a mais uma pessoa deveria ter vivido se ela não houvesse tido sido vitimada prematuramente. Em comparação com a taxa de mortalidade, essa métrica dá mais peso para fatalidades de jovens do que a primeira, de forma que é bastante útil para ressaltar causas de mortes externas ou que não sejam diretamente causadas pelo envelhecimento.


Assim, essa métrica pode ser utilizada para avaliar o impacto da pandemia de COVID-19, tanto de uma perspectiva geral quanto compreendendo o efeito da doença sobre diferentes faixas etárias. Um dos principais estudos realizados a respeito do assunto veio de um grupo de pesquisa britânico que investigou em detalhes os óbitos ocorridos na Itália para compreender o perfil das vítimas sob diferentes aspectos (sexo, faixa etária e comorbidades), utilizando-os posteriormente para fazer uma estimativa do impacto da doença na população do Reino Unido. Um sumário da estimativa de Anos de Vida Perdidos por pessoas de diferentes faixas etárias e com um diferente número de comorbidades pode ser observada na imagem abaixo.

De forma geral, o padrão observado mostra o impacto da COVID-19 sobre mortes prematuras da população, em especial dentre aqueles com até uma comorbidade. Conforme a idade e as comorbidades aumentam, o número de anos de vida perdida diminui, mas o impacto global ainda é elevado: na maioria das faixas etárias e níveis de comorbidades, o número total de Anos de Vida Perdidos permaneceu acima de 5 anos. Na média, estima-se que mais de uma década de vida seja perdida a cada óbito por COVID-19 - 14 anos para homens e 12 para mulheres. O impacto da pandemia pode ser percebido também nas expectativas de vida: os dados preliminares do Reino Unido indicam que a expectativa de vida caiu 1.7 anos para mulheres e 1.9 anos para homens neste ano.


Esse mesmo padrão observado na Europa também aparece no restante do mundo: um estudo realizado em meados de junho indicou que, até essa data, já haviam sido perdidos ao todo 4.364.326 anos de vida por conta da COVID-19 nos 42 países analisados, com uma média de 14.5 anos perdidos por óbito. De forma geral, quase 25% dos anos de vida perdidos vieram de óbitos abaixo da faixa dos 55 anos, mas essa proporção pode ser maior em países de renda mais baixa, como pode ser observado na figura abaixo.

Fonte: Global years of life lost to COVID-19 (https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.19.20136069v1)

Fonte: Global years of life lost to COVID-19 (https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.19.20136069v1)

Nos epicentros da pandemia, EUA e Brasil, o cenário se mostra ainda mais grave. Nos EUA, o país já havia ultrapassado os 1 milhão de Anos de Vida Perdidos no final de maio, atingindo com mais força grupos de raças não-brancas. Com isso, a COVID-19 se tornou a principal causa de morte do país e a segunda em termos de Anos de Vida Perdidos, perdendo apenas para doenças cardíacas (10.7% do total contra 10.5% do novo coronavírus).

No Brasil, por sua vez, até meados de agosto, já foram ao todo 1.760.699 Anos de Vida Perdidos. Apesar dos homens terem um prejuízo maior em termos do total de Anos de Vida Perdidos (56%), esse resultado acaba sendo também um reflexo do maior número de óbitos dessa parcela da população (58% do total). Na média, entretanto, as mulheres estão perdendo mais anos de vida pela COVID-19 do que os homens: cada óbito entre elas é responsável pela perda de 19 anos de vida, contra 17 anos perdidos entre a população masculina.

Os dados nos mostram o grande impacto que a COVID-19 está tendo em termos de óbitos ao redor do mundo inteiro. Além do alto número bruto de mortes, que já é preocupante por si só, a COVID-19 está sendo responsável pela morte prematura de milhares de pessoas, mostrando reflexos já até mesmo na expectativa de vida de diferentes países. Dessa forma, é fundamental que a busca por uma vacina e por medicamentos eficazes pelo vírus seja mantida como prioridade máxima global, de tal maneira a evitar que ainda mais óbitos ocorram.


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