Uma Perspectiva Racial da COVID-19

No post de hoje, vamos investigar a incidência da COVID-19 em diferentes grupos através da perspectiva racial. Conforme análises anteriores, a gravidade da epidemia de COVID-19 apresenta uma relação com variáveis sócio-econômicas, de tal forma que a pandemia acaba evidenciando algumas desigualdades sociais já existentes no país. Assim, como a cor de uma pessoa é um dos fatores conhecidos da desigualdade social no Brasil (estudo detalhado aqui)l, ela se torna uma variável importante de ser incluída nos estudos da epidemia.

Dessa forma, analisamos dados de uma base do Ministério da Saúde que possui informações sobre a cor das pessoas. Os dados em questão são notificações de SRAG compiladas a partir dos casos registrados em hospitais e unidades sentinelas de todo o país (https://opendatasus.saude.gov.br/dataset/bd-srag-2020). Apesar de ser uma das mais detalhadas fontes de dados da COVID-19 no país, essa base registra basicamente apenas casos graves da doença - dessa forma, esse conjunto de dados representa apenas cerca de 11% dos casos notificados no país em 30/jun. Assim, considerando apenas os casos de SRAG que foram diagnosticados como COVID-19 e que já foram finalizados (ou seja, que já tiveram um desfecho ou de cura ou de óbito), temos taxas mais elevadas de hospitalização (90% dos casos) e de letalidade (45% dos casos) nessa amostra do que no geral do país.

Quebrando os dados por cor (de acordo com a classificação usada pelos IBGE), observamos uma diferença expressivas nas taxas de letalidade entre os diferentes grupos. Enquanto a população branca é a menos afetada, com 40% de óbitos, os indígenas são os mais afetados, com uma taxa de letalidade de quase 60%. Em contrapartida, a situação se inverte em termos de Internações em UTI: a taxa de internações para os indígenas é de apenas 18%, o que sugere que pode haver uma dificuldade de acesso desses povos aos sistemas de saúde especializados.

Quando trazemos a dimensão de escolaridade, observamos que ela se mostra um fator relevante: quanto maior o nível de educação, menor a taxa de letalidade. De forma geral, a população branca novamente se mostra menos afetada que as demais. Em particular, o destaque fica com a parcela que possui ensino superior, cuja letalidade é de cerca de 22%. Em contrapartida, as pessoas de cores preta, parda e indígena sem escolaridade morrem 3x mais que esse grupo.

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Assim, os dados indicam a existência de uma diferença na forma como a COVID-19 está atingindo as pessoas. Além desse panorama refletir as desigualdades sociais pré-existentes no país, ele ressalta os principais grupos que vêm sendo afetados e prejudicados pela pandemia, ajudando a destacar quais devem ser os públicos alvos das medidas de prevenção, de forma a reduzir o risco de óbito e a garantir a segurança e a saúde de todos os grupos.


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