A disseminação espacial do COVID-19 no Brasil

No post de hoje, vamos explorar a situação da disseminação do #coronavirus pelo Brasil. Temos observado que, dentre todos os estados do país, a epidemia teve seu foco nas grandes cidades, em especial nas capitais, que não só foram as primeiras a apresentar casos da doença, mas também a concentrar o maior número de pessoas infectadas até então. Apesar desse cenário, o número de casos no interior do país vem crescendo e, cada vez mais, temos um número maior de locais afetados. Diante disso, vamos analisar quais estados estão com a doença mais disseminada por todo seu território e como estão distribuídos os casos entre as grandes e as pequenas cidades do Brasil.

Começamos nossa análise explorando a incidência de casos e de óbitos pelos municípios de todo país, sendo que nas imagens abaixo é possível observar quantos casos e óbitos temos por 100 mil habitantes em cada cidade. As regiões pretas indicam municípios que não possuem nenhum caso ou óbito de COVID-19, enquanto que as mais avermelhadas indicam os locais mais afetados pela pandemia.

A primeira coisa que nos chama a atenção é o vazio que observamos no centro da geografia brasileira. Acabamos de atingir 50% dos municípios do país com casos de COVID-19, mas temos claramente temos algumas regiões mais afetadas que outras. Enquanto o Norte e o Nordeste tem, respectivamente, 69% e 58%  dos seus municípios afetados, a região Centro-Oeste apresenta um percentual de apenas 31%. Em termos dos óbitos, o cenário já é muito mais disperso, mas a região Norte lidera novamente, com 31% do total de municípios contra 20% na região Nordeste, 19% no Sudeste e apenas 10% e 8% das regiões Sul e Centro-Oeste, respectivamente.

Olhando esse mesmo panorama por estado, apenas 10 dos 26 estados possuem menos da metade de seus municípios afetados, sendo que 6 estados chegam a ter mais de 90% dos municípios com casos de COVID-19, sendo eles: Amazonas, Pará, Rio de Janeiro, Ceará, Roraima e Amapá, o único a alcançar 100% de presença. No caso dos óbitos os percentuais caem bastante, mas Amapá segue liderando com 63% dos seus municípios tendo ao menos um falecimento. Os 3 estados da região Centro-Oeste são destaques positivos aqui: nenhum deles possui mais do que 40% e 10% de seus municípios com casos e com óbitos.


Analisando um pouco mais as cidades brasileiras afetadas pela pandemia, vamos dividir os 5.570 municípios em faixas de acordo com a sua população: até 10 mil habitantes, entre 10 mil e 20 mil, entre 20 mil e 50 mil, entre 50 mil e 100 mil, entre 100 mil e 500 mil e acima de 500 mil habitantes. A distribuição que encontramos nessas faixas é bem desequilibrada: embora representem menos de 6% do total de cidades do país, os locais com mais de 100 mil habitantes são responsáveis por quase 60% da população do país. Em contrapartida, os municípios com até 10 mil habitantes compõe 44% dentre os 5570 existentes, mas alcançam pouco mais de 6% da população brasileira.

munic_vs_pop.png

Já com relação ao impacto causado pela pandemia, podemos observar nas imagens abaixo que até o presente momento as grandes cidades estão sendo bem mais atingidas pelo vírus do que as pequenas. Todas as cidades do país com mais de 100 mil habitantes possuem casos de COVID-19, sendo que as que possuem uma população acima de 500 mil habitante já apresentam óbitos pela doença. Em contrapartida, dentre as cidades com até 10 mil habitantes, 25% apresentam casos e 3% óbitos. Além disso, quando olhamos para a incidência dessas variáveis, encontramos um cenário muito parecido: quanto maior o tamanho da cidade, mais afetada ela está sendo pela epidemia.

casos_vs_obitos.png
incid_casos_vs_obitos.png

Por fim, apesar do panorama observado nos gráficos acima, o fato das cidades pequenas estarem sendo menos afetadas até então não significa que elas estão imunes ao COVID-19. Na realidade, as análises indicam que a epidemia segue ondas de propagação, começando nas grandes cidades e depois se disseminando para o interior dos países - ou seja, os municípios menores também serão afetados, apenas demora mais para que a epidemia chegue neles. De fato, quando comparamos o percentual de municípios afetados pela pandemia em meados de abril com o cenário atual, notamos que a evolução foi muito maior nos locais pequenos: o número de cidades afetadas quadruplicou entre aquelas que tem até 50 mil habitantes.

evol_municipios.png

Diante de toda a análise realizada, é possível notar que a epidemia ainda está evoluindo no Brasil, mas que ela já está em uma segunda etapa, atingindo também os municípios do interior do país. Sendo assim, é necessário observar com atenção a evolução de casos nas próximas semanas, visto que o número de cidades afetadas pela pandemia no país pode vir a crescer ainda mais.


Guest User