A realização de Eventos durante a pandemia

No post de hoje, vamos abordar uma das principais formas de disseminação da COVID-19: os eventos que geram reunião ou até mesmo aglomeração de pessoas. Como a COVID-19 é transmitida majoritariamente entre indivíduos, o distanciamento social está sendo uma das principais estratégias adotadas para combater a disseminação da doença desde o começo da pandemia. Entretanto, conforme os países retornam à normalidade, os encontros entre as pessoas voltaram a ocorrer com mais frequência, de tal forma que representam um risco de início de novos surtos.

Apesar das recomendações feitas por inúmeras entidades de saúde, diversos eventos seguiram ocorrendo mesmo em fases mais restritivas dos distanciamento social. Isso levou pesquisadores a analisarem a disseminação do vírus nesses ambientes, de forma a observar o real risco que esse tipo de situação representava. Nesse sentido, um dos principais questionamentos a respeito desse tema é qual o tamanho de um evento seguro que pode ser realizado durante a pandemia. Essa pergunta, entretanto, não é fácil de responder: além de não conhecermos esse número, uma análise do pesquisador Joshua Weitz do Georgia Tech mostrou que apesar do risco de transmissão do COVID-19 em um evento sempre aumentar com o tamanho dele, o valor exato do risco depende também do número de casos na região, como pode ser visto na imagem abaixo.

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Além do tamanho do evento e do número de casos da região, um fator que tem aparecido de forma recorrente em outros estudos é o tipo de evento realizado: eventos como ida a bares, restaurantes e festas tem se mostrado de alto risco, tanto pela potencial proximidade de pessoas e pela falta de ventilação desses locais, quanto pela realização de atos sem máscara (como comer ou beber) nesses ambientes, facilitando a transmissão de gotículas de salivas. 

Nos EUA, estudos do CDC identificaram que pacientes com COVID-19 reportaram ter ido a restaurantes 2x mais que indivíduos que não contraíram o vírus e o rastreamento de contatos no estado de Maryland indicou que 44% dos infectados participaram de atividades familiares e 23% foram a festas caseiras. Em Hong Kong, um estudo de rastreamento de contatos encontrou resultados similares: 51% de todos os casos estavam linkados com 1 dos 137 agrupamentos encontrados, sendo que os três maiores grupos estavam associado com bares (106 casos), um casamento (22 casos) e um templo (19 casos), cuja representação pode ser vista abaixo. 

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Um efeito importante que também foi observado no estudo de Hong Kong foi a existência de indivíduos super transmissores: pacientes que são responsáveis por uma disseminação massiva da doença, infectando um número bastante elevado de pessoas com a doença. Nesse caso, foi identificado que apenas 19% dos infectados foram responsáveis por 80% das infecções, enquanto 69% das pessoas não infectaram ninguém. Esse é outro fator que aumenta o risco de eventos e aglomerações, visto que a presença de super transmissores da COVID-19 nesses locais facilita a disseminação da doença.

Assim, os estudos existentes até o momento indicam que existe um risco potencialmente alto na realização de eventos durante o período de pandemia, em particular se eles são realizados em um momento de alta disseminação, se eles reúnem um número elevado de pessoas e se eles envolvem atividades que não façam uso de máscara ou incentivem um contato mais próximo entre os indivíduos. Dessa forma, é fundamental que esse tópico seja levado em consideração na hora de definir o retorno à normalidade, tomando os cuidados necessários para evitar que esses eventos sejam responsáveis pelo início de novos surtos.


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