Óbitos no Brasil por outras Causas Respiratórias
No post de hoje, vamos explorar uma questão que vem sendo bastante discutida no país: o alto número de óbitos por outras Causas Respiratórias que vem sendo registrado. Devido ao fato da COVID-19 possuir sintomas parecidos com outras síndromes respiratórias e de não haver testes suficientes para suprir a demanda, existe uma preocupação de que uma parcela dos óbitos causados pelo vírus possam vir a ser registrados como outro tipo de doença respiratória. Algumas das possíveis causas de óbito alternativas que podem aparecer no registro são: SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), Pneumonia, Insuficiência Respiratória e ainda Septicemia, uma infecção grave que pode surgir após uma inflamação, de tal forma que uma de suas possíveis causas é o novo coronavírus.
Dentre todas elas, a SRAG tem sido considerada a mais preocupante. Ao todo, já tivemos 6.249 óbitos registrados por SRAG no Brasil esse ano: 46% a mais que o número registrado durante todo o ano de 2019. Inclusive, o número registrado atualmente em 2020 já é o maior número de óbitos por SRAG da década - o máximo havia sido registrado em 2016, com 4.785 óbitos. Quando comparamos apenas o período onde ocorreram fatalidades por COVID-19 no país com o mesmo período em anos anteriores, a diferença é ainda mais alarmante: foram reportados quase 20x mais óbitos por SRAG neste ano em comparação com o ano passado. Os comparativos para as demais doenças (relativos ao período de metade de março até o final de maio) podem ser observados na imagem abaixo.
Como podemos ver, as mortes por causas respiratórias no período de metade de março até final de maio aumentaram um pouco em relação ao ano passado. A principal diferença se dá por conta dos óbitos de COVID-19 e pneumonia, já que as demais causas chegaram até a apresentar uma queda nos números. Em alguns dos estados mais afetados pela pandemia, porém, houve um aumento até mesmo em outras causas: Amazonas, quarto estado do país em número de casos, apresentou um aumento de óbitos de 56x por SRAG, 2x por pneumonia e 2.5x por insuficiência respiratória - no total, as doenças respiratórias e suas complicações já causaram mais do que o triplo de fatalidades registradas no último ano.
Assim, é notável que pode estar ocorrendo uma subnotificação dos óbitos por COVID-19 no país devido a dificuldade de identificar a sua real causa - em particular, a SRAG parece estar sendo a maior responsável por esse fato até então. A existência do problema de subnotificação de dados da pandemia é conhecida em todo mundo e, apesar dos óbitos serem uma métrica mais confiável, eles também podem ser afetados pela falta de testes - em particular, quando temos um cenário de sobrecarga do sistema de saúde ou ainda do sistema funerário. Dessa forma, é fundamental que os números de óbitos por outras causas respiratórias sejam também levados em consideração na hora de avaliar o panorama da crise da COVID-19 no país.