Os médicos brasileiros e a pandemia de COVID-19

No post de hoje, vamos analisar alguns dados que refletem a perspectiva dos médicos brasileiros frente a pandemia de COVID-19. Os médicos são uma das categorias de trabalhadores essenciais dessa pandemia, e, desde o começo do ano, estão atuando na linha de frente do combate ao coronavírus. Por conta disso, é importante entender a sua opinião e percepção a respeito da atual situação do Brasil na pandemia.

Os dados que iremos analisar hoje são de uma pesquisa realizada pela Associação Paulista de Medicina no final do mês de junho, que contou com a participação de 1.984 profissionais. Dos respondentes, 88% foram do estado de São Paulo, e 60% trabalham em locais que atendem pacientes de COVID-19.
Com relação a sua atuação frente à pandemia, a maioria dos médicos (88,7%) respondeu que está atendendo até 10 pacientes com confirmação ou suspeita de COVID-19 por dia, e 40% deles já acompanharam pacientes que acabaram falecendo. Em relação a percepção de como a pandemia está progredindo, 45,4% e 21,5% dos médicos entrevistados acreditam que o Ministério da Saúde tem divulgado um número menor que o real de casos e de óbitos de COVID-19, respectivamente. Quanto a sua própria capacitação para auxiliar no combate à pandemia, a maioria disse ser capacitado para auxiliar em alguma etapa (83,2%) do tratamento, mas apenas 28% se disseram capazes de auxiliar em todas elas.

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Apesar da disposição para trabalhar, quase 70% dos médicos apontaram alguma lacuna de recursos que impede que seu trabalho seja exercido da forma mais adequada. Para 25% dos entrevistados, faltam diretrizes e orientações de entidades superiores a respeito da pandemia. Em termos de equipamento, a ausências mais citadas são as de máscaras N95 (24%) e de óculos (18%). Já em termos de recursos humanos, 20.8% e 17% apontam a falta de outros profissionais da saúde e de médicos, respectivamente, sendo essa uma preocupação de longo prazo: na percepção da maioria (53,8%), é provável que irá faltar médicos até o final da epidemia no país.

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Em relação a disseminação de notícia falsas, 92.5% dos médicos apontaram que elas têm gerado problema para o exercício de sua profissão. Dentre os problemas destacados, se sobressaem a minimização da pandemia (69.2%) e o descrédito da ciência e dos profissionais da saúde (50.4%). Além disso, quase a metade (48,9%) dos médicos disseram que pacientes e familiares têm pressionado pelo uso de tratamentos sem comprovação científica. Já em relação à violência contra os médicos, 37% dizem ter presenciado, durante a pandemia, algum tipo de agressão a profissionais da saúde. Dentre as formas de violência citadas, as mais comuns foram agressões psicológicas (21,5%) e agressões verbais (20,7%).

Por conta desse tipo de situação, somada à pressão gerada pela própria pandemia, mais de 90% dos médicos apontaram que estão identificando sentimentos negativos dentre os seus colegas. Segundo os respondentes, os sentimentos predominantes são a ansiedade (69,2%) e o estresse (63,5%), seguidos pela sensação de sobrecarga (50,2%) e pela exaustão física/emocional (49%).

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Os dados analisados nos ajudam a traçar um panorama geral da situação e da percepção dos médicos brasileiros frente a COVID-19. De forma geral, observamos que há um bom número de profissionais preparados e engajados para o atendimento de pacientes com o novo coronavírus, mas que eles têm enfrentados dificuldades diárias e variadas para o exercício de se trabalho. Além da dificuldade inerente à pandemia, os médicos estão tendo que lidar também com a falta de recursos, com a disseminação de notícias falsas e até mesmo com agressões, o que acaba sendo refletido na alta presença de sentimentos negativos entre esses profissionais. Devido à importância dessa classe para o combate à pandemia, é fundamental que sejam buscadas formas de apoiar e incentivar a continuidade do trabalho desses profissionais.

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