Perspectivas futuras para um mundo pós-lockdown

Com o fim da primeira onda da pandemia de COVID-19 ocorrendo em muitos países, a busca por novas formas de se conviver em sociedade ganhou bastante importância. Ao mesmo tempo em que é necessário manter um certo nível de distanciamento social para evitar o desencadeamento de novos surtos, o isolamento completo pode ter efeitos sociais, psicológicos e econômicos bastante negativos, principalmente quando mantido por um longo prazo. Por conta disso, no post de hoje vamos discutir algumas das alternativas pesquisadas na comunidade científica que focam em reduzir de forma estratégica o contato entre as pessoa.

Um dos principais estudos sobre o assunto realizados até agora foi o Social network-based distancing strategies to flatten the COVID-19 curve in a post-lockdown world”, publicado na Nature Human Behaviour por pesquisadores das universidades de Oxford e Zurique. Nesse artigo, os autores propõem formas de alterar as redes de contato e de interação entre as pessoas de tal maneira a achatar a curva de contágio. Na figura abaixo, eles trazem um exemplo de como alteração na estrutura das redes de relações pode ser efetiva nesse sentido: ambas redes possuem o mesmo número de indivíduos e de conexões, mas estão estruturadas de forma diferente - e esse fato apenas já é suficiente para reduzir a velocidade de disseminação da doença.



Levando esse aspecto em consideração, os autores propõem 3 alternativas de redução de contato entre indivíduos e comparam-nas com a rede de contatos original (figura a):

  • Busca por semelhanças (figura b): os indivíduos mantêm contato apenas com pessoas que tenham alguma característica semelhante a suas. Podem ser formados, por exemplo, grupos pequenos de pessoas que vivem geograficamente perto, ou que trabalham no mesmo lugar ou que possuem a mesma idade.

  • Fortalecimento de comunidades (figura c): os indivíduos mantêm contato apenas com pessoas que também interajam com outras pessoas do seu círculo social. Nessa estratégia, por exemplo, dois amigos só podem se encontrar se possuem vários amigos em comum.

  • Bolhas sociais de repetição (figura d): indivíduos escolhem algumas pessoas para interagir e restringem suas interações sociais apenas a essas pessoas. Nessa estratégia, deve haver comum acordo entre o grupo social de que as interações podem ocorrer apenas entre eles mesmos, sem que nenhum dos indivíduos interaja com pessoas de fora do grupo.

Captura de Tela 2020-06-26 às 18.43.38.png

Analisando cada uma dessas estratégias, os autores observaram que todas elas performam melhor, tanto com relação ao cenário onde não há nenhuma restrição de contato, quanto no qual as medidas de isolamento são aplicadas de forma aleatória (sem adotar nenhuma estratégia específica). A mais efetiva delas, a estratégia de Bolhas sociais de repetição, chega a reduzir o pico de infecção em 60% e resulta em 30% a menos de infectados no final do surto em comparação com a estratégia aleatória.

3.png

Assim, essas análises indicam que a aplicação de estratégias bem elaboradas de redução de contatos pode ser bastante efetiva no achatamento da curva em comparação com um distanciamento social simples. A estratégia de bolhas sociais, inclusive, já vem sendo desenvolvida na Nova Zelândia e a eficiência do país em lidar com a crise da COVID-19 pode servir de exemplo para a adoção desse tipo de estratégia em outros locais.


Guest User