O risco de reaberturas precipitadas durante a pandemia de COVID-19

No post de hoje, vamos abordar uma questão importante a respeito da pandemia de COVID-19: a reabertura das cidades e a retomada das atividades normais de forma precipitada. Como falamos no último post, existe uma série de medidas que devemos realizar para controlar o COVID-19 antes de pensar em voltar ao modo de vida anterior à pandemia. Entretanto, diversos locais retomaram as atividades de forma precipitada, sem cumprir todos os critérios recomendados, e acabaram observando um crescimento de casos maior do que o planejado.

Um dos principais riscos das reaberturas precipitadas vem da forma como a COVID-19 se dissemina. Durante a fase da pandemia de distanciamento social, são aplicadas restrições de mobilidade e o número de estabelecimentos abertos é bem menor, restrito a apenas atividades consideradas essenciais. Por conta disso, a população se mantém mais afastada, em geral tendo contato com um grupo menor de pessoas e apenas nas situações estritamente necessárias. Quando essas restrições diminuem, em contrapartida, voltamos a ter espaços fechados e de maior aglomeração de pessoas abertos novamente, o que acaba aumentando o risco de disseminação da doença. Um guia do nível de risco de infecção para diferentes tipos de atividades pode ser visualizado no material abaixo.

Dentre todas as atividades que podem ser reabertas, uma em especial tem causado bastante discussão entre governantes e especialistas: a reabertura de escolas. Apesar de todos concordarem que a volta às aulas presenciais é imprescindível e que deve ser realizada da forma mais rápida possível, fazer isso sem o devido controle pode ser muito perigoso: além de ser um ambiente com alta circulação e proximidade de pessoas, dados de outros países indicam que as consequências podem ser graves. Nos EUA, a reabertura de escolas chegou a aumentar os casos de COVID-19 entre crianças em 33% em apenas 10 dias após a volta às aulas, colocando em risco não só essas crianças, mas os funcionários da escola também. Um estudo realizado na Austrália apontou que, apesar desse grupo ser apenas 10% da comunidade escolar, eles foram responsáveis por 56% dos casos registrados em escolas
Além da disseminação dentro do próprio ambiente escolar, existe o risco do contágio se alastrar para dentro das casas dos estudantes. No Brasil, o alto número de lares multigeracionais torna essa uma grande preocupação: segundo um estudo da Fiocruz, o retorno às aulas pode colocar em risco 9,3 milhões de pessoas pertencente a grupos de risco (adultos com comorbidades e idosos), que moram no mesmo domicílio dos estudantes. O retrato da situação por estado, que coloca em risco entre 2% e 6% da população de cada estado, pode ser visualizado nas imagens abaixo.

Os estudos analisados indicam alguns dos potenciais riscos existentes na reabertura precipitada de atividade não-essenciais, que devem ser levadas em consideração principalmente nos países que ainda estão passando pela primeira onda da pandemia, como é o caso do Brasil. Em particular, a situação das escolas brasileiras se mostrou uma fonte de grande debate e de potencial risco de aumento de casos, de forma que a retomada das atividades escolares deve ser analisada com bastante cuidado.


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