O risco de reaberturas precipitadas durante a pandemia de COVID-19
No post de hoje, vamos abordar uma questão importante a respeito da pandemia de COVID-19: a reabertura das cidades e a retomada das atividades normais de forma precipitada. Como falamos no último post, existe uma série de medidas que devemos realizar para controlar o COVID-19 antes de pensar em voltar ao modo de vida anterior à pandemia. Entretanto, diversos locais retomaram as atividades de forma precipitada, sem cumprir todos os critérios recomendados, e acabaram observando um crescimento de casos maior do que o planejado.
Um dos principais riscos das reaberturas precipitadas vem da forma como a COVID-19 se dissemina. Durante a fase da pandemia de distanciamento social, são aplicadas restrições de mobilidade e o número de estabelecimentos abertos é bem menor, restrito a apenas atividades consideradas essenciais. Por conta disso, a população se mantém mais afastada, em geral tendo contato com um grupo menor de pessoas e apenas nas situações estritamente necessárias. Quando essas restrições diminuem, em contrapartida, voltamos a ter espaços fechados e de maior aglomeração de pessoas abertos novamente, o que acaba aumentando o risco de disseminação da doença. Um guia do nível de risco de infecção para diferentes tipos de atividades pode ser visualizado no material abaixo.
Fonte: Governo do Canadá
Dentre todas as atividades que podem ser reabertas, uma em especial tem causado bastante discussão entre governantes e especialistas: a reabertura de escolas. Apesar de todos concordarem que a volta às aulas presenciais é imprescindível e que deve ser realizada da forma mais rápida possível, fazer isso sem o devido controle pode ser muito perigoso: além de ser um ambiente com alta circulação e proximidade de pessoas, dados de outros países indicam que as consequências podem ser graves. Nos EUA, a reabertura de escolas chegou a aumentar os casos de COVID-19 entre crianças em 33% em apenas 10 dias após a volta às aulas, colocando em risco não só essas crianças, mas os funcionários da escola também. Um estudo realizado na Austrália apontou que, apesar desse grupo ser apenas 10% da comunidade escolar, eles foram responsáveis por 56% dos casos registrados em escolas
Além da disseminação dentro do próprio ambiente escolar, existe o risco do contágio se alastrar para dentro das casas dos estudantes. No Brasil, o alto número de lares multigeracionais torna essa uma grande preocupação: segundo um estudo da Fiocruz, o retorno às aulas pode colocar em risco 9,3 milhões de pessoas pertencente a grupos de risco (adultos com comorbidades e idosos), que moram no mesmo domicílio dos estudantes. O retrato da situação por estado, que coloca em risco entre 2% e 6% da população de cada estado, pode ser visualizado nas imagens abaixo.
Os estudos analisados indicam alguns dos potenciais riscos existentes na reabertura precipitada de atividade não-essenciais, que devem ser levadas em consideração principalmente nos países que ainda estão passando pela primeira onda da pandemia, como é o caso do Brasil. Em particular, a situação das escolas brasileiras se mostrou uma fonte de grande debate e de potencial risco de aumento de casos, de forma que a retomada das atividades escolares deve ser analisada com bastante cuidado.