O Risco Hospitalar da COVID-19
No post de hoje, vamos falar um pouco sobre uma importante questão da pandemia de COVID-19: o risco de contrair a doença no ambiente hospitalar. Desde o começo da disseminação do vírus, os hospitais se tornaram grandes centros de concentração da doença, devido ao fato de serem o local de referência em atendimento para casos graves, que necessitam hospitalização ou até mesmo tratamento intensivo. Por conta disso, os indivíduos que frequentam hospitais regularmente, tanto a trabalho (profissionais da saúde) quanto por outros motivos (pacientes com outras enfermidades), se transformaram em uma espécie de grupo de risco, por estarem mais sujeito a terem contato com o vírus no seu cotidiano.
Assim, utilizando uma base de dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde, que foca apenas em casos graves (internações), mas que traz maiores detalhes sobre os pacientes, é possível separar os casos e óbitos que foram contraídos em ambiente hospitalar dos que não foram. Fazendo essa análise, encontramos que os casos contraídos em hospitais tem 43% a mais de chance de virem a óbito dos que os contraídos em outros locais.
Existem algumas hipóteses que podem justificar isso:
A primeira é uma maior presença de comorbidades e de um estado de saúde debilitado entre os pacientes que contraem a doença nos hospitais;
A segunda está mais relacionada com o ambiente em si: no ambiente hospitalar, a exposição ao vírus pode ser alta, resultando na contração da doença com uma carga viral mais elevada, que vem sendo apontada por alguns estudos como um dos possíveis fatores que influenciam sua gravidade (https://www.thelancet.com/journals/lanres/article/PIIS2213-2600(20)30354-4/fulltext). Ou seja, sendo esse o caso, os pacientes também teriam uma tendência a contrair uma forma mais "grave" da doença, que poderia ser responsável pela maior letalidade.
Em relação especificamente aos profissionais da saúde, os números brasileiros se mostram ainda mais preocupantes: ao todo, já tivemos mais de 243 mil casos de COVID-19 confirmados nesse grupo. Apesar de diversos profissionais do grupo de risco estarem afastados de suas atividades desde o começo da pandemia, 980 casos confirmados e 665 suspeitos de profissionais da saúde chegaram a ter uma evolução de quadro para SRAG, com 202 e 48 desses, respectivamente, vindo a óbito. A taxa de letalidade para os casos confirmados por estado pode ser observada na figura abaixo.
No geral, a maioria dos estados está com uma taxa de letalidade de SRAG/COVID-19 em profissionais da saúde abaixo dos 50%, sendo Amapá (75%), Sergipe (67%), Roraima (56%), Mato Grosso (52%) e Tocantins (50%) as exceções. Entretanto, todos eles estão com um número baixo de profissionais infectados (21 ou menos). Em contrapartida, o estado de São Paulo, líder em casos, apresenta uma taxa de letalidade na faixa dos 20%. Apenas na capital já são mais de 23 mil infectados (26% do total de trabalhadores da área), considerando as formas leves e graves da doença.
Com base nas análises acima, é possível perceber a gravidade da pandemia nos ambientes hospitalares brasileiros. Devido a alta letalidade por contração nesse locais, o país chega a ser líder mundial em óbitos de profissionais de enfermagem. Além disso, o número de casos entre os profissionais de toda a área da saúde é bastante elevado, chegando a responder por 8% de todos os casos no país. Dessa forma, é fundamental que sejam executadas políticas de prevenção e garantia de condições de trabalho seguras para esses profissionais, visto que a sua atuação é essencial durante uma pandemia.