A distribuição dos Recursos contra o COVID-19 no Brasil

No post de ontem, trouxemos uma análise sobre quais são os estados e os tipos de cidades brasileiras que estão sendo mais afetados pela pandemia. Hoje vamos dar sequência a esse estudo trazendo dados sobre os recursos que cada um desses locais possui, para entender quais dessas regiões estão mais capacitadas para responder ao coronavírus.

Alguns dos principais recursos necessários ao combate à pandemia são: os profissionais da saúde (como médicos e enfermeiros), os leitos de UTI (utilizado pelos pacientes com casos graves da doença) e os respiradores (auxiliam na respiração dos pacientes em situação crítica). A distribuição de cada um desses recursos pelos municípios do Brasil foi realizada em 2019 pelo IBGE e pode ser visualizada nos mapas abaixo, sendo que os espaços vazio representam municípios sem uma única unidade do recurso em questão.

Enquanto a diferença entre os municípios em termos de médicos e enfermeiros não é tão clara, é notável que tanto os respiradores quanto os leitos de UTI estão concentrados em algumas regiões do país. Quando colocamos essa distribuição em termos do tamanho das cidades, notamos claramente que esses recursos estão concentrados nas cidades grandes.

Os municípios com mais de 500 mil habitantes representam 32% da população brasileira, e concentram 44% dos enfermeiros, 53% dos médicos, 57% dos respiradores e 60% dos leitos de UTI do país. Em contrapartida, os municípios de até 50 mil habitantes somam 31% da população, mas possuem apenas 4% dos leitos de UTI e 12% dos médicos. No panorama geral, 90% dos municípios de todo país não possuem Leitos de UTI em seu território.

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Outro fato preocupante é o número elevado de municípios pequenos que não possuem nem ao menos uma unidade de algum dos recursos. 98% das cidades com até 50 mil habitantes não possuem um único leito de UTI e apenas uma dentre as 2452 cidades com até 10 mil habitantes possui leitos de UTI. Além disso, 85% destas não possuem respiradores.

Esse panorama se mostra preocupante, visto que, como mostramos no último post, os casos de COVID-19 estão avançando nas regiões do interior do país. Um reflexo disso pode ser observado quando analisamos a quantidade de municípios no país que possuem óbitos de COVID-19 mas que não possuem respiradores ou leitos de UTI. Dentre as cidades com até 50 mil habitantes, já temos mais de 300 que possuem óbitos por COVID-19 mas que não possuem nem um único respirador. Da mesma forma, 509 municípios (9% do total de cidades do país) dessa categoria apresentam óbitos causados pelo vírus, mas não possuem leitos de UTI em seu território.

Quando observamos esse cenário por região, notamos novamente a desigualdade existente entre elas. As duas regiões com mais municípios com casos e óbitos de COVID-19 em seu território, o Norte e o Nordeste, também são as que menos tem o maior número de municípios sem Leitos de UTI e Respiradores disponíveis: mais de 80% das cidades dessas regiões que apresentam óbitos não possuem leitos de UTI e metade não possui nem sequer respiradores.

O cenário observado indica que a pandemia pode vir a assumir uma gravidade ainda maior com a disseminação da crise para o interior do país. Devido à alta concentração de recursos essenciais (em especial de respiradores e de leitos de UTI) nas grandes cidades, muitos dos pequenos municípios do país não possuem condições de tratar os pacientes mais críticos, de tal forma que eles precisam procurar atendimento nas grandes cidades ou então correm um risco ainda mais elevado de falecer em suas cidades. Dessa forma, é preciso que os gestores levem esse fato em consideração na hora de planejar e executar as medidas de contenção e prevenção contra o COVID-19, analisando não só a realidade de sua própria região, mas também dos entornos dela.


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